quarta-feira, 11 de maio de 2011

A união venturosa



Gazeta do Rio de Janeiro, Sabbado, 11 de Maio de 1811
(leia o número completo aqui)

Sahio á luz o Drama com Muzica, intitulado: A União Venturosa. Obra de Antonio Bressane Leite para se representar no Faustissimo Dia dos Annos de S.A.R. Vende-se na loja da Gazeta, e no Real Theatro na noite deste Augusto Dia a 480 réis.

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Ato Único - Cena I
(leia o texto completo e com ortografia modernizada aqui)

[...]

Descem os dous gênios em um grupo de nuvens e cantam o seguinte:

DUETO.

Gênio Lusitano.

O tempo, que os bronzes come

Gênio Americano.

De quem quanto existe pende

Ambos.

A cadeia, que nos prende,
Jamais poderá quebrar.

Gênio Lusitano.

Oh que união tão ditosa!

Gênio Americano.

Oh que glória! Que ventura!

Ambos.

Sinto num mar de ternura
Meu coração palpitar.

Gênio Americano.

Mensageiro do deus que os bons premeia [sic]
Baixamos sobre vós, povos ditosos.
Eu sou o sacro Gênio, a quem foi dada
A glória de reger vossos destinos.
Sim, povos do Brasil, vós que noutra ora,
A cerviz inclinando a negras aras,
Só cumpríeis as leis que vos ditavam
Do báratro horrendo as ígneas Fúrias;
Que a par das feras por incultas brenhas
(Menos feras que vós) em sangue humano
Tingíeis da ignorância os grilhões duros,
Enquanto pelos cumes de altas serras
Não vistes tremular as lusas quinas;
E por lusos heróis que eternos vivem
Da memória imortal no templo eterno
Em honra ao céu, ao rei e à fé sagrada
Calcando p'rigos, afrontando a morte,
Vencendo de Netuno a fúria brava,
Nos vossos lares, venturosos lares,
Deram ao grande deus cultos sagrados.
Sabei, ó povos, com que glória o digo!
Que por lei que firmara a mão do eterno,
Na glória que gozais sois mais ditosos,
De quantos hoje habitam o vasto globo.
Sois de tanta ventura devedores
Ao Gênio tutelar do luso império.